domingo, 29 de abril de 2012

Caso clínico e laudo de monitorização terapêutica - Procainamida


CASO CLÍNICO – PROCAINAMIDA

            Paciente: AFS; Sexo: Feminino; Idade: 58 anos; Peso: 70 Kg
Paciente diagnosticada com arritmia cardíaca a algum tempo, é usuária de um medicamento antiarrítmico da classe IA a quase 6 meses, a procainamida 0,5g a cada 12 horas (VO). Dá entrada na unidade de emergência queixando-se de inchaço e rigidez articular, dores musculares, anemia, aparecimento de hematomas e febre. Solicitado exame laboratorial foram encontrados anticorpos antinucleares circulantes, constatando diagnóstico de Lúpus eritematoso sistêmico medicamentoso.  Evoluindo para Insuficiência Renal Aguda.
Exames laboratoriais: Velocidade de Hemossedimentação (VHS), FAN (fator anti-núcleo), VDRL e Dosagem de complemento e Hemograma e EAS.

LAUDO DE RESULTADOS DE EXAME
CONTROLE TERAPÊUTICO DA PROCAINAMIDA



Fonte: 1- GOODMAN AND GILMAN. The Pharmacological Basis of Therapeutics,
8.ed McGraw-Hill,1996.

PROCAINAMIDA – ASPECTOS GERAIS
A procainamida é um antiarrítmico da classe IA utilizado no tratamento de taquicardia atrial e ventricular recorrente, taquicardia paroxística supraventricular não controlada.  Seu mecanismo de ação é semelhante ao da quinidina, pois aumenta o limiar de potencial de membrana, reduzindo a excitabilidade e a velocidade de contração das fibras de Purkinje e no músculo ventricular.
A procainamida também é rapidamente excretada através das vias renal e hepática, na sua forma inalterada (T ½ = 3 a 4 horas). Mais de 50% é excretada em sua forma inalterada na urina, por conseguinte, é necessária uma administração mais frequente que a da quinidina. O NAPA, seu principal metabólito é eliminado através da via renal com T ½ de 6 a 10 horas. Em pacientes com insuficiência renal a procainamida e o NAPA podem se acumular no organismo em concentrações potencialmente tóxicas. (GILMAN et al, 1996)
De acordo com os protocolos de rotina deve ser dada uma dose inicial de 20 mg / min por via intravenosa (iv) até que a arritmia desapareça. A dose de manutenção deve ser individualizada de acordo com necessidades dos pacientes. A redução da dose pode ser necessária em pacientes idosos e com insuficiência renal em hepática, renal ou cardíaca.

DISCUSSÕES DO CASO
Em pacientes com insuficiência renal o NAPA pode acumular-se até concentrações plasmáticas potencialmente tóxicas. A redução da dose de procainamida e da frequência da dosagem e o monitoramento das concentrações plasmáticas de ambos os compostos são necessários nessa situação.
A procainamida pode causar uma síndrome que superficialmente se assemelha ao lúpus eritematoso sistêmico. O LES induzido por drogas é reversível quando a procainamida é interrompida. No mínimo 60 a 70% dos pacientes que recebem procainamida desenvolvem anticorpos antinucleares após 1 a 12 meses de tratamento. O desenvolvimento isolado de anticorpos antinucleares é razão insuficiente para interromper o tratamento com procainamida, porém os riscos e benefícios do tratamento devem ser avaliados, e a procainamida é geralmente é interrompida quando os pacientes se tornam sintomáticos.
Meia vida prolongada, Clearence plasmático diminuído e meia vida biológica aumentada, estão diretamente ligadas a insuficiência renal. O paciente já havia sido diagnosticado com arritmias a algum tempo e foi admitido queixando-se de sintomas que estão intimamente ligados com o lúpus eritematoso sistêmico medicamentoso. Conclui-se então que o antiarrítmico Procainamida (VO) que estava em uso, poderia ser substituída por outra da mesma classe, evitando a elevada incidência de lúpus eritematoso medicamentoso.
A monitorização terapêutica da procainamida é indicada para avaliar entre o baixo índice de terapêutico (Lúpus eritematoso), além de demonstrar seu acúmulo em pacientes com Insuficência renal.

MONITORAMENTO
Suporte Farmacológico
Coletas de amostras sanguíneas para monitorização terapêutica através de análises da procainamida por HPLC ou imunoensaios. Investigação farmacocinética do fármaco através de amostra de sangue realizada em momentos estratégicos e definidos pelo laboratório.

REFERÊNCIAS
  • ·         GOODMAN AND GILMAN. The Pharmacological Basis of Therapeutics, 8ª.ed McGraw-Hill,1996.
  • ·         BURTIS, C.A;  ASHWOOD. E.R. Tietz. Fundamentos de Química Clínica, 4ª ed., 1998.
  • ·         SILVA, P. Farmacologia. Rio de Janeiro, 6 ª ed, Guanabara Koogan, 2002.
  • ·         MORREAU R; CIQUEIRA M. Toxicologia Analítica. Ed. Guanabara Kiigan, 2008.





terça-feira, 24 de abril de 2012

Caso clínico e laudo de monitorização terapêutica - Lidocaína


CASO CLÍNICO - LIDOCAÍNA

JRO, masculino, 72 anos, 75 kg, 1,67m, chegou ao hospital apresentando um quadro com palpitações taquicárdicas (aceleração do coração), tontura e falta de ar. Ao realizar o eletrocardiograma foi diagnosticado uma taquiarritmia ventricular aguda. Durante a anamnese, o paciente relatou que sofre de problemas hepáticos.
Terapêutica instituída: Administração intravenosa de lidocaína (fármaco de escolha para a terapêutica das arritmias ventriculares agudas) e monitoramento cardiovascular.
Suporte farmacológico: coleta de amostra sanguínea para monitorização terapêutica.
Foi administrada uma dose de 2 mg/kg de peso corporal (150mg) numa injeção intravenosa rápida (bolo), seguida de infusão venosa contínua para manutenção de nível plasmático terapêutico (situado entre  1,5 – 5 mg/L), onde  foi administrado doses na velocidade de 2mg/min, o que deu 120mg/h  (valores limites: 2 a 4 mg/minuto e 300mg/h) nas primeiras 24 horas.
A monitorização terapêutica da lidocaína é indicada por mostrar correlação entre concentração e eficácia, saber se as doses estão sendo aplicadas de forma ideal para o paciente, para estabelecimento de um esquema terapêutico não convencional, por ter baixo índice de segurança (apresenta efeitos indesejáveis que se concentram no SNC, como sonolência, desorientação, distúrbios visuais e convulsões, em geral quando se ultrapassa o nível terapêutico) e pelo fato do paciente ser idoso e com problemas hepáticos (a lidocaína é metabolizada no fígado).

LAUDO DE RESULTADO DE EXAME
CONTROLE TERAPÊUTICO DA LIDOCAÍNA
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Paciente:  JRO      Idade: 72 anos     Peso: 75 kg    Altura: 1,67m       IMC: 26,9               
Unidade/hospital: Universitário   Leito: 345-9    RG: 7890654    Sexo: M
Data de internação: 03/04/12                     Coleta de sangue: 03/04/12
Expedição do resultado: 04/04/12         
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Via de administração intravascular (infusão 1 hora): [x] sim [ ] não
Dose total diária:  2,91 g                          
Esquema terapêutico: Dose de ataque 150mg + infusão contínua de 120mg/h nas primeiras 24 hs
Início do tratamento: 1 dia             Horário de administração: infusão contínua        
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Parâmetros
Resultados
Valores de referência*
Meia-vida biológica
3 horas
1,4 - 2,2 horas
Clearance plasmático
3,2 mL/min/kg
6,8- 11,6 mL/min/kg
Volume de distribuição
0,03L/kg
0,7 - 1,5L/kg
*Fonte: Goodman & Gilman.As bases farmacológicas da terapêutica. 11ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2007.
Método analítico em Cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE)
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INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS (diante da faixa de referência):
Resumo dos dados obtidos e estimados do laboratório para o clínico responsável:
Acúmulo da lidocaína em função da meia-vida prolongada, depuração plasmática e volume aparente de distribuição muito reduzidos.
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Responsáveis:  Rai Nunes e Yasmmim Machado

Caso clínico e Laudo de teofilina


CASO CLÍNICO
Paciente JSF, sexo masculino, 60 anos, 72 kg e 1,75 m de altura, deu entrada no HUPAA-AL com quadro de insuficiência respiratória, dispnéia, tosse produtiva matinal e hipersecreção de muco. Sua esposa relatou o agravamento da falta de ar em atividades simples do cotidiano, como por exemplo, uma caminhada. O pneumologista solicitou uma espirometria, para avaliar a função ventilatória, o que auxiliou no diagnóstico de DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) genética decorrente da insuficiência em alfa 1- antitripsina (AAT), enzima que, normalmente, impede a perda das fibras elásticas dos pulmões. Além disso, sua esposa relatou que seu sogro era portador da mesma patologia e que seu esposo também possui insuficiência cardíaca congestiva (ICC). O paciente foi submetido ao tratamento inicial com Teofilina 300 mg de 12/12 horas, uma dimetilxantina que relaxa o músculo liso dos brônquios (broncodilatadora), facilitando a respiração e estimula a concentração cardíaca. O sangue do paciente foi coletado dia 04/04/12, pois foi quando se passaram 7 meias-vidas (7X10=70 horas = 3 dias), situação onde a concentração do fármaco se encontra mais estável no sangue.



LAUDO DE RESULTADO DE EXAME
                               CONTROLE TERAPÊUTICO DA TEOFILINA        

Paciente: JSF
Data internação: 01/04/12
Sexo: Masculino
Leito: 05
Unidade/hospital: Universitário
Altura:1,75 m                          IMC:23,51
Idade: 60 anos
Coleta de sangue/data: 04/04/12
Creatinina sérica: 6,2 mg%
Expedição do resultado/data/hora: 05/04/12



Via de administração oral

Dose total diária: 600 mg/ dia
Esquema terapêutico: 300mg 12/12h
Início do tratamento: 4 dias
Horário da administração: 08:00/20:00 h





PARÂMETROS

RESULTADO
VALORES DE REFERÊNCIA*
Concentração plasmática (μg/ml)
30 μg/mL
20 μg/mL
Meia-vida biológica (t1/2β)
15 horas
6 a 10 horas
Clearance biológico (Clr)
0,40 ml/min/kg
0,65 ml/min/kg
Volume de distribuição (Vd)
0,65 L/kg
0,45 L/kg
*Rang e Dale Farmacologia 6 ed.
Goodman e Gilman, As bases farmacológicas da terapêutica 9 ed.
 medicinanet.com.br
 www4.anvisa.gov.br

Método Analítico em Cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE-UV).


INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS (diante faixa de referência)
Resumo dos dados obtidos e estimados do laboratório para o clínico responsável:
Concentração plasmática elevada em função de acúmulo de teofilina referente à meia-vida aumenta, onde o paciente é portador de ICC, acarretando em diminuição do débito cardíaco, fluxo sanguíneo renal e clearance. Depuração plasmática e volume de distribuição relativamente reduzidos.
 
  
Responsável: Danielly Galdino; Nataly Miranda


segunda-feira, 23 de abril de 2012

 CASO CLÍNICO DIGOXINA

A. M. C. 78 anos, sexo feminino, casada, pesa 65 kg e tem 1,60 de altura, moradora do município de Atalaia-AL. Em exames de rotina foi observado alterações em seu eletrocardiograma, sendo confirmado pelo ecocardiograma (um exame mais especifico) o quadro de arritmia cardíaca. Para o tratamento, foi prescrito digoxina 0,125 mg uma vez ao dia. (Um glicosídeo cardíaco, onde a detecção da toxicidade ainda é uma consideração importante no diagnóstico diferencial das arritmias e/ou sintomas neurológicos e gastrintestinais). A paciente seguia o tratamento corretamente, porém ao descobrir a traição do esposo, entrou em depressão e começou a apresentar episódios de amnésia, e como não se lembrava se havia tomado o medicamento, acabava por ingerir 2 comprimidos ao dia. Por volta de 7 dias tomando o dobro da dose prescrita a paciente deu entrada na emergência apresentando mal estar, delírio, fadiga, visão embaçada, náusea, vômito, aumento de resposta ventilatória à hipóxia, arritmias ventriculares e atriais, sintomas característicos de intoxicação por digoxina. Seu cardiologista de imediato solicitou um exame de sangue (radioimunoensaio) com urgência para confirmar a suspeita de intoxicação e iniciar o monitoramento terapêutico. De posse do laudo abaixo, médico prescreveu o antídoto Fab intravenoso (com base na quantidade de digoxina no plasma) e iniciou o monitoramento cardíaco.



LAUDO DE RESULTADO DE EXAME
  CONTROLE TERAPÊUTICO DE DIGOXINA
  HOSPITAL GERAL DO ESTADO DE ALAGOAS

Paciente: A. M. C.           Sexo: feminino
Idade: 78 anos                 Data de admissão: 01/04/2012
Peso: 65 Kg                     Leito: 204
Altura: 1,60 m
Coleta de sangue/data: 01/04/2012
Expedição do resultado/data: 01/04/2012


Via de administração oral       sim (x)  não ( )
Dose total diária: 0,125 mg/dia                Esquema terapêutico:0,125  mg uma vez ao dia
Início do tratamento: 2 meses                   Horário da administração: 15:00 hs

     PARÂMETROS
       RESULTADOS
VALORES DE REFERÊNCIA
Meia-vida biológica (t1/2β)
55 horas
36 – 48 horas
Volume de distribuição (Vd)
2 L/kg
4 -7 L/kg
Concentração plasmática
5 ng/ml
1-2 ng/ml
FONTE: GOODMAN AND GILMAN, As bases farmacológicas da Terapêutica, 10.ed. MacGraw-Hill, 2005

Método analítico: Radioimunoensaio


INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS (diante da faixa de referência)
Resumo dos dados obtidos e estimados do laboratório para o clínico responsável:
Concentração plasmática elevada compatível com o acúmulo de digoxina em função da meia-vida prolongada e  volume aparente de distribuição muito reduzido.

Data de expedição: 04/04/2012  
Responsável: Izadora Izidoro, Mayara Canuto e Mariana Santos



domingo, 22 de abril de 2012

MONITORIZAÇÃO TERAPÊUTICA



Relato do Caso Clínico

       Paciente M. J. S., 33 anos, 77 kg, 1,80 m, residente na cidade de São Paulo há alguns meses iniciou um quadro de episódios convulsivos tônico-clônicos, seguidos de confusão mental temporária, espasmos musculares esporádicos porém contínuos, intensa fadiga e tontura. Foi diagnosticado epilepsia generalizada. Seu neurologista inicia esquema terapêutico com fenobarbital 50mg três vezes ao dia, sendo responsivo e tolerável por via oral, em razão do comprometimento de múltiplos acessos periféricos ocorridos meses antes (o que inviabilizou a escolha dessa via). Por ser um fármaco de baixo índice terapêutico, iniciou-se monitorização terapêutica, visto também a gravidade do caso. Realizou-se coleta de sangue periférico a fim de analisar a farmacocinética, utilizando-se do método analítico de Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE-UV). Os resultados constam na tabela abaixo.




segunda-feira, 9 de abril de 2012

Quadrilogia: Os toxicantes nas diversas atuações do farmacêutico

E encerra-se a série de estudos sobre a presença dos toxicantes nas diversas áreas de atuação do profissional farmacêutico. As áreas abordadas foram:

OS TOXICANTES NAS DIVERSAS ATUAÇÕES DO FARMACÊUTICO


TOXICOLOGIA OCUPACIONAL EM PROFISIONAIS DE ANÁLISES CLÍNICAS: HEPATITE-B

1. INTRODUÇÃO

Todos profissionais da área de saúde, não excluído o Farmacêutico, estão sob risco constante de adquirir doenças no exercício de suas funções. Dentre varias doenças infecto-contagiosas verifica-se o aumento de contaminações a Hepatite B, através da manipulação de amostras biológicas em Laboratórios de Análises Clínicas. A hepatite B é uma doença de ocorrência mundial, com 250 a 350 milhões de portadores crônicos, surgindo mais de 50 milhões de novos casos de infecção anualmente (MOREIRA et al.; 2007). De acordo com LOPES et al. existe uma maior prevalência de infecções por este tipo de doença em profissionais de saúde do que na população em geral.

Comprovadamente os microrganismos têm driblado as medidas de segurança adotadas na atualidade, colocando em riscos profissionais e pacientes, e a falta de cuidados em relação à Biossegurança, tem propiciado a intensificação do ciclo de contaminação, além disso, alguns estudos mostram que a adesão de estudantes e trabalhadores da saúde às medidas de precauções-padrão em hospitais é baixa. O estudo realizado por LOPES ET AL. mostra que, mesmo após diversos treinamentos sobre o uso das precauções-padrão, os estudantes e trabalhadores da saúde não adotavam a lavagem das mãos antes e após a realização de procedimentos, bem como continuavam reencapando as agulhas utilizadas. Por este motivo, a instituição estudada teve que realizar campanhas sobre a importância da lavagem das mãos e da prevenção de acidentes com materiais perfurocortantes.

O Sistema Único de Saúde (SUS) tem procurado responder aos desafios postos pelas hepatites virais. Em 2002, foi publicada uma portaria Ministerial Nº 263 de 05 de Fevereiro, substituída pela de Nº 2.080, de 31 de Outubro de 2003, da Secretaria vigilância em Saúde (SVS), instituindo, no âmbito do SUS, o programa Nacional de Prevenção e o controle de Hepatites Virais (PNHV), que inclui a área ocupacional, a ser desenvolvido de forma articulada pelo Ministério da Saúde e pelas Secretarias de saúde dos Estados, Municípios e Distrito Federal. Além disso, têm sido publicadas Portarias que especificam procedimentos, medicamentos e imunobiológicos utilizados na atenção as Hepatites virais, assim como instrumentos para seu financiamento.

O Center for Disease Control (CDC) criou, e 1988, um conjunto de recomendações destinadas aos profissionais de saúde, com o propósito de diminuir risco de contaminação por HIV e Hepatite B Vírus (HBV) no caso de contato com sangue e fluídos corporais. No Brasil, essas recomendações foram inicialmente traduzidas como precauções universais e, atualmente, são denominadas de precauções-padrão. O uso de tais medidas pressupõe que todos os profissionais podem ser potencialmente infectados com patógenos. Conseqüentemente, esses devem se prevenir com medidas de barreira, sempre que houver possibilidade de contato com sangue ou fluidos corporais. Faz-se necessário, porém, destacar que as precauções-padrão podem ajudar a reduzir, mas não eliminam o risco de exposição ocupacional.

2. PATOGÊNESE

A lesão hepática relacionada ao VHB é causada principalmente por mecanismos imunes, mediados pela lise dos hepatócitos infectados pelos linfócitos T citotóxicos. Recentemente foram identificados os mecanismos patogênicos responsáveis da hepatopatia necro-inflamatória crônica e aguda relacionada ao VHB e dos fatores virais e/ou do hospedeiro determinantes da gravidade da doença. A resposta imune do hospedeiro aos antígenos associados ao VHB é importante para determinar a evolução da infecção aguda pelo VHB. A intensidade da resposta imune do hospedeiro é crucial para eliminar o vírus, mas isto causa simultaneamente dano hepático (isto é, uma forma de “hepatite” manifestada por uma elevação das transaminases que ocorre antes do desaparecimento do vírus). Os sujeitos que contraem a infecção crônica são incapazes de sustentar uma resposta imune contra o VHB e sofrem assim episódios intermitentes de destruição hepatocítica (hepatite).

3. ASPECTOS CLÍNICOS E LABORATORIAIS

Manifestações clínicas

O risco de cronificação pelo vírus B depende da idade na qual ocorre a infecção. Assim, em menores de um ano chega a 90%, entre 1 e 5 anos esse risco varia entre 20 e 50% e em adultos, entre 5 e 10%. Para o vírus C, a taxa de cronificação varia entre 60 a 90%, sendo maior em função de alguns fatores do hospedeiro (sexo masculino, imunodeficiências, idade maior que 40 anos). Na hepatite D, a cronicidade é elevada na superinfecção, chegando a 79,9% e menor na coinfecção, por volta de 3%.

Hepatite aguda

Período prodrômico ou pré-ictérico – ocorre após o período de incubação do agente etioló-gico e anteriormente ao aparecimento da icterícia. Os sintomas são inespecíficos, como: anorexia, náuseas, vômitos, diarreia (ou raramente constipação), febre baixa, cefaleia, mal-estar, astenia e fadiga, aversão ao paladar e/ou olfato, mialgia, fotofobia, desconforto no hipocôndrio direito, urticária, artralgia ou artrite e exantema papular ou maculo-papular.

Fase ictérica – com o aparecimento da icterícia, em geral, há diminuição dos sintomas prodrômicos. Observa-se hepatomegalia dolorosa, com ocasional esplenomegalia. Ocorre hiperbilirrubinemia intensa e progressiva, principalmente à custa da fração direta. A fostatase alcalina e a gama-glutamil-transferase (GGT) permanecem normais ou discretamente elevadas. Há alteração das aminotransferases, podendo variar de 10 a 100 vezes o limite superior da normalidade. Esse nível retorna ao normal no prazo de algumas semanas, porém se persistirem alterados, por um período superior a seis meses, deve-se considerar a possibilidade de cronificação da infecção no caso das hepatites B, C e D.

Fase de convalescença – segue-se ao desaparecimento da icterícia e a recuperação completa ocorre após algumas semanas, mas a fraqueza e o cansaço podem persistir por vários meses.

4. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

Exames inespecíficos

Aspartato aminotransferase (AST)

Alanino aminotransferase (ALT)

São marcadores de agressão hepatocelular. Nas formas agudas, chegam a atingir, habitualmente, valores até 25 a 100 vezes acima do normal.

Bilirrubina

Elevam-se após o aumento das aminotransferases e, nas formas agudas, podem alcançar valores 20 a 25 vezes acima do normal. Apesar de haver aumento tanto da fração não-conjugada (indireta), quanto da conjugada (direta), essa última apresenta-se predominante. Na urina, pode ser detectada precocemente, antes mesmo do surgimento da icterícia.

Proteínas séricas

Em geral não se alteram na forma aguda da doença.

Gama- glutamiltransferase

Ocorre elevação discreta nas hepatites virais, exceto nas formas colestáticas.

Atividade da Protrombina

Nas formas agudas benignas, esta prova sofre pouca alteração, exceto nos quadro de hepatite fulminante. Nos casos de hepatite crônica, o alargamento do tempo de protrombina indica a deterioração da função hepática.

Alfa feto proteína

Não tem valor clínico na avaliação das hepatites agudas. A presença de valores elevados ou progressivamente crescentes em pacientes portadores de hepatite crônica, em geral, indica o desenvolvimento de carcinoma hepatocelular.

Hemograma

A leucopenia é habitual nas formas agudas, entretanto muitos casos cursam sem alteração no leucograma. A presença de leucocitose sugere intensa necrose hepatocelular ou associação com outras patologias.

Exames específicos

HbsAg (antígeno de superfície)

É o primeiro marcador a surgir após a infecção, em torno de 30 a 45 dias, e pode permanecer detectável por até 120 dias nos casos de hepatite aguda. Ao persistir além de seis meses caracteriza a infecção crônica. Existem mutações que podem alterar a conformação do HBsAg e consequentemente, inibir a sua detecção pelos testes imunoenzimáticos usuais. Nestes casos, a sorologia para o HBsAg apresenta-se negativa, o que pode caracterizar uma infecção oculta, na qual recomenda-se avaliar a carga viral do VHB, utilizando testes de biologia molecular.

Anti-Hbc total

Este marcador é utilizado na triagem para a hepatite B por detectar tanto o anticorpo IgG quanto o anticorpo IgM. Um resultado de Anti-Hbc total reagente serve de alerta, necessitando de uma investigação detalhada afim de avaliar a fase da doença, crônica ou aguda, e iniciar o tratamento devido.

Anti-Hbs

Esse teste é um indicativo de resposta imune seja ela por meio de vacinação ou por contato com o vírus, é o principal teste de imunização e triagens de profissionais de saúde na avaliação da hepatite B.

5. TRATAMENTO

Não existe tratamento específico para as formas agudas das hepatites Virais. Entretanto, faz-se necessária a máxima atenção quanto às medicações utilizadas já que se deve evitar o emprego de drogas que tenham potencial efeito hepatotóxico.

Comparação dos tratamentos aprovados para a hepatite B crônica.

IFN ou

PEGinterferon

alfa

Lamivudina

(LAM)

Adefovir

(ADF)

Entecavir

(ETV)

Telbivudina

(LdT)

Tenofovir

(TDF)

HBeAg+, ALT

normal

Sem

tratamento

Sem

tratamento

Sem

tratamento

Sem

tratamento

Sem

tratamento

Sem

Tratamento

Hepatite crônica

HBeAg (+)

Indicado

Indicado

Indicado

Indicado

Indicado

Indicado

Hepatite crônica

HBeAg (-)

Indicado

Indicado

Indicado

Indicado

Indicado

Indicado

Hepatite crônica

HBeAg (+)

4–12 meses

Até HBeAb (+)

Até HBeAb

(+)

Até HBeAb

(+)

Até HBeAb

(+)

Até HBeAb

(+)

Hepatite crônica

HBeAg (-)

1–2 anos

Não se sabe;

? até perda do

HBsAg

Não se sabe;

? até perda do

HBsAg

Não se sabe;

? até perda do

HBsAg

Não se sabe;

? até perda do

HBsAg

Não se sabe;

? até perda do

HBsAg

Via

Subcutânea

Oral

Oral

Oral

Oral

Oral

Efeitos colaterais

Muitos

Negligenciável

Possível

Nefrotoxicidade

Negligenciável

Negligenciável

Negligenciável

Resistência aos

medicamentos

Nenhuma

≈ 20%, ano 1

≈ 70%, ano 5

Nenhuma,

ano 1

29%, ano 5

< 1% a 1 ano

? 30% se o

LAM-R

2–5% no ano

1; 8-22% ano

2; nunca dar

para LAM-R

Nenhuma

Custo

Inicialmente

alto (mas

duração finita)

Mais baixo

Intermédio

alto em

particular

porque é

necessário

tratamento

a longo

prazo

Muito alto, em

particular

porque é

necessário

tratamento a

longo prazo

Intermédio alto

em particular

porque é

necessário

tratamento a

longo prazo

Intermédio alto

em particular

porque é

necessário

tratamento a

longo prazo

ALT, alanina aminotransferase; HBeAb,anticorpo HBe; HBeAg, antígeno e da hepatite B; HBsAg, antígeno de superfície da hepatite B; IFN, interferon; LAM-R, resistência a lamivudina/resistência.

* Existe uma alta taxa de resistência, particularmente nos pacientes com uma carga viral basal ≥ 104 UI/mL, ≥ 105 c/mL.

† PEGinterferon aprovado para 12 meses.

‡ Tratamento enquanto o paciente permanecer HBeAg-positivo e durante pelo menos 6 meses após a soroconversão anti-HB.

O paciente deve entender que a interrupção do tratamento pode precipitar uma insuficiência hepática aguda mesmo na ausência de cirrose.

6. VACINAÇÃO

O HBsAg é o antígeno usado na formulação da vacina da hepatite B. Ele é produzido a partir de uma levedura, utilizando tecnologia do DNA recombinante. Está disponível como preparação com um agente único ou em combinação fixa com outras vacinas.

Vacinação passiva com imunoglobulina contra hepatite B (HBIg) HBIg é preparada a partir do plasma de indivíduos que têm altas concentrações de anti-HBs. A dose padrão de HBIg em adultos é de 0.06 mL/kg para todas as aplicações. Em doses padrão, ela oferece proteção transitória (isto é, durante aproximadamente 3–6 meses) contra a infecção pelo VHB. HBIg é aplicada através de injeção intramuscular, preferencialmente no deltóides ou no músculo glúteo. Se dada com vacina contra hepatite B, a vacina HBIg deve ser aplicada em lugar diferente.


(1) A primeira dose da vacina contra a hepatite B deve ser administrada na maternidade, nas primeiras 12 horas de vida do recém-nascido. O esquema básico se constitui de 03 (três) doses, com intervalos de 30 dias da primeira para a segunda dose e 180 dias da primeira para a terceira dose.

(2) O esquema de vacinação atual é feito aos 2, 4 e 6 meses de idade com a vacina Tetravalente e dois reforços com a Tríplice Bacteriana (DTP). O primeiro reforço aos 15 meses e o segundo entre 4 e 6 anos.

(3) É possível administrar a primeira dose da Vacina Oral de Rotavírus Humano a partir de 1 mês e 15 dias a 3 meses e 7 dias de idade (6 a 14 semanas de vida).
(4) É possível administrar a segunda dose da Vacina Oral de Rotavírus Humano a partir de 3 meses e 7 dias a 5 meses e 15 dias de idade (14 a 24 semanas de vida). O intervalo mínimo preconizado entre a primeira e a segunda dose é de 4 semanas.
(5) A vacina contra febre amarela está indicada para crianças a partir dos 09 meses de idade, que residam ou que irão viajar para área endêmica (estados: AP, TO, MA MT, MS, RO, AC, RR, AM, PA, GO e DF), área de transição (alguns municípios dos estados: PI, BA, MG, SP, PR, SC e RS) e área de risco potencial (alguns municípios dos estados BA, ES e MG). Se viajar para áreas de risco, vacinar contra Febre Amarela 10 (dez) dias antes da viagem.

Fonte: Ministério da Saúde

CONDUTAS NA EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL A MATERIAL BIOLÓGICO

- O que fazer após exposição ocupacional a material biológico.

Chamamos de PRECAUÇÕES BÁSICAS a um conjunto de medidas preconizadas para prevenção, que devem ser adotadas sempre que esta envolva a manipulação de sangue, secreções, excreções e contato com mucosa e pele não íntegra.

Há evidências clínicas e laboratoriais que medidas profiláticas pós-exposição não são totalmente eficazes. O que reforça a obrigatoriedade do uso dos EPI, a manipulação cuidadosa dos instrumentais pérfuros-cortantes e a restrita observância das normas de acondicionamento e descarte de resíduos infectantes. Tudo isso somado, enfatiza a necessidade de atualização e treinamento profissional contínuo.

A exposição percutânea sempre será considerada perigosa, particularmente para os casos de exposição aos vírus da hepatite B e C. Estes chegam a apresentar risco médio de contágio de 40% e 1,8% respectivame.

- Cuidados com material pérfuros-cortantes

Durante e após a realização de procedimentos que dizem respeito à manipulação de material pérfuro-cortante, devemos adotar as seguintes recomendações:

a) Máxima atenção durante a realização dos procedimentos que envolvam instrumentos pérfurocortante;

b) As agulhas não devem ser reencapadas, entortadas, quebradas ou retiradas da seringa com as mãos;

c) Não utilizar agulhas para fixar papéis;

d) Todo material pérfuro-cortante deve ser descartado conforme os preceitos já enunciados neste manual.

- Cuidados Locais Após Exposição

a) Lavagem exaustiva com água e sabão, em caso de exposição percutânea;

b) Uso de solução antisséptica degermante (PVP-iodo) ou Clorexidina;

c) Evitar procedimentos que aumentem a área exposta (cortes e injeções locais), e a utilização de soluções irritantes como éter, hipoclorito de sódio ou glutaraldeído;

d) Após exposição de mucosa, lavagem exaustiva com água ou solução fisiológica.

REFERÊNCIAS

1. SHIMIZU HE, RIBEIRO EJG. OCORRÊNCIA DE ACIDENTE DE TRABALHO POR MATERIAIS PERFUROCORTANTES E FLUIDOS BIOLÓGICOS EM ESTUDANTES E TRABALHADORES DA SAÚDE DE UM HOSPITAL ESCOLA DE BRASÍLIA. Rev Esc Enferm USP 2002.

2.http://www.worldgastroenterology.org/assets/downloads/pt/pdf/guidelines/12_hepatitis_b_pt.pdf

3. G:\SESI_AC_Protocolos_Biosseguranca_Profissionais_Odontologia.pdf.

4. Plano Nacional de Prevenção e Controle das Hepatites Virais – Ministério da saúde/ Secretaria de Vigilancia a saúde.

5.http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/gve_7ed_web_atual_hepatites_virais.pdfl.

6. “Questões Ligadas à Segurança dos Profissionais da Área da Saúde em Coleta de Sangue”. Notas Preanalíticas BD Diagnósticos, 2009; nº1, ano1: 1-8.

7. MOREIRA, R. C.; SARACENI, C. P.; OBA, I. T.; SPINA, A. M. M.; PINHO, J. R. R.; SOUZA, L. T. M.; OMOTO, T. M.; KITAMURA, C.; OSELKA, G. SOROPREVALÊNCIA DA HEPATITE B E AVALIAÇÃO DA RESPOSTA IMUNOLÓGICA À VACINAÇÃO CONTRA A HEPATITE B POR VIA INTRAMUSCULAR E INTRADÉRMICA EM PROFISSIONAIS DE UM LABORATÓRIO DE SAÚDE PÚBLICA, J. Bras. Patol. Med. Lab., Rio de Janeiro, v. 43, n. 5, p. 313-318, 2007.

8. LOPES, C. L. R.; MARTINS, R. M. B.; TELES, S. A.; SILVA, S. A.; MAGGI, P. S. YOSHID C. F. T. PERFIL SOROEPIDEMIOLÓGICO DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA HEPATITE B EM PROFISSIONAIS DAS UNIDADES DE HEMODIÁLISE DE GOIÂNIA-GOIÁS, Brasil Central, Rev. Soc. Bras. Med. Trop. Uberaba, v. 34, n. 6, p. 534-548, 2001.